domingo, 24 de junho de 2012

Pinhões




Na cadência triste do chorinho
Ao longe
Paro.
Raros são os dias em que os oiço,
Esses cantantes.
Brincam, braços dados,
Dão-se.
É tão vago o dar-se assim...
Mas eis que riem – e como riem! –,
Fingem bem essa tal felicidade.

Varo a noite e os sorrisos,
Por um instante entrecortados,
De repente calam.
A festa acabou deveras,
Os goles se foram no suor.
E as mulatas, com os homens
Agora seus,
Desfazem-se em gemidos
No prédio caiado da rua de baixo.
E ali, no salão,
Junto com os ratos,
As sobras,
As sombras,
Os vômitos e as lembranças vagas,
Ficaram eles,
Os velhos de muletas sem mulatas.
E aqui, do meu quarto,
Já não oiço nada,
Mas não me furto de ali estar.
Vazio, aquele salão
Triste, enfim
Sou eu.

* Imagem: Summer in the City (1950), de Edward Hopper.

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