terça-feira, 21 de junho de 2011

Parede da memória, quadro #3



[Desejo] 
a Florbela Espanca

O som dos passos calmos, decadentes,
Tilintam em meus olhos cor de fogo
E vou soturno, ralo, entre as gentes
Sentindo o peso pardo do teu jogo.

Quem dera ter-te em minhas mãos insones
Nem que fosse por um momento apenas...
Só de pensar meu ser já me condena!
Só de te ver meu corpo me consome!

Não vou dormir, ó purulenta noite,
Nem me entregar ao meu desejo infame!
Quero vestir m’as costas de açoites,

Cobrindo m’a vergonha de pudores!
Vou me esbaldar nas poças do meu sangue
’té que de mim tu te desabotoes... 



* Imagem: Nu féminin assis (1917), Amadeo Modigliani

Um comentário:

  1. Nota às brisas que por aqui sopram:

    “Parede da memória”, é uma série de poemas cujo título, inspirado numa canção de Belchior, já diz do que se trata. Nada mais é, portanto, que uma tentativa de sublimar em poesia algumas reminiscências de meu passado que, vez por outra, atormenta meu presente.

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