olho os meus dias como quem
olha solenemente os carros negros que se
seguem ao ataúde solitário
o solitário absoluto
a solidão em si
plena
sem máscaras
olho os meus dias como quem
olha a pista suja e triste
depois que o bloco passa
e escuta os tamborins silenciados
o silêncio
quando já não há fantasias
nem máscaras
olho os meus dias como quem
não vê
olho a sombra, a penumbra, a escada
vazia
o livro fechado e
não lido
a louça suja do que
não foi comido
o sol que se pôs sem nascer
olho os meus dias
- essa eterna noite chamada vida -
mas nada enxergo
por quê?
* Imagem: Head and bottle (1975), de Philip Guston.
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