quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Alheamento


morrer
como as palavras
à sombra do silêncio

como a carroça 
no asfalto, teimar
em errar o tempo

seguir alheio entre as gentes
qual fantasia de brincante
às cinzas do 
carnaval

e me pegar contente
deslumbrado
ante essa vida tão 
banal

*Imagem: El perro (1819-1823), de Francisco de Goya.


sábado, 14 de fevereiro de 2015

Trinta e dois


O espelho, teimoso,

sorri e finge.
É que tardio bebo
dos goles de velhice.
Mas o tempo se agarra em mim,
me fere as costas,
e aos tropeços 
evito olhar o que se perdeu.

Sinto-me lúcido agora,
com a lucidez cândida
dos que estão a morrer.
Hoje sei que placidamente
passo e findo
qual 'ma vaga sobre o rochedo:
enorme, efêmera
e sem porquê.

*Imagem: Absinth drinker (1898), de László Mednyánszky

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Haicai #4 - Andor


Leve como a andorinha,
Carrego em mim
A dor minha.

*Imagem: Jeune fille mangeant un oiseau - Le Plaisir (1927), de Rene Magritte.